Relutei por alguns instantes, comecei e apaguei esse texto mais de dez vezes. Tem horas que escrever sobre os sentimentos e falar na primeira pessoa é tão imprescindível quanto custoso.
Quando fui embora pela primeira vez e me mudei pra uma cidade grande, longe de toda comodidade da cidade pequena eu não sabia o que encontraria por lá. Eu só me mudei e enfrentei de peito aberto o novo.
Por muito tempo fui muito pequena diante da imensidão da cidade. Aprendi no susto a lidar com o mundo corporativo das grandes empresas, me virei bem no caos da cidade, conclui com sucesso todas as etapas de sobrevivência de quase 4 horas de transporte público por dia e aos trancos e barrancos, entre amor e ódio por São Paulo tive anos de muito crescimento.
Quando senti que meu tempo ali havia terminado e não via razões pra seguir correndo na roda do rato eu me senti pequena outra vez. É engraçado que quando a gente se vê assim, esquece dos momentos que tivemos de força e crescimento.
E assim, me sentindo sem espaço e não vendo razões em continuar buscando sentido no vazio da rotina fui mais uma vez encontrar mais em mim, fui fazer mais por mim. Eu sempre soube que tinha mais espaço nos meus 1,60 de altura do que parecia.
E assim, de malas prontas me joguei em um novo país, com uma língua nova e de mochila nas costas pra buscar alguns meses de uma nova versão minha. Alguns chamam isso de intercâmbio, outros de ano sabático, outros acharam que fiquei doida, alguns que eu fugi de problemas (que eles criam) e outros que meu pai é rico e porque não bancar a filhinha, né?
Juntei o que tinha de dinheiro guardado, vendi meu carrinho, peguei meu seguro e fui. Depois de mais de 15.000 km de viagem eu estava andando naquele aeroporto enorme, tentando entender aquele dinheiro estranho e enquanto eu buscava alguma coisa pra comer eu me senti pequena outra vez. Eu lembro direitinho do meu peito apertando.
Respirei fundo uma, duas, três vezes e fui. A imagem que eu tenho do dia que eu sai do aeroporto me alimenta até hoje em dias de fraqueza. Trabalhei como todo intercambista sem grana faz, fiz faxina pra ajudar nas contas e pra juntar um dinheirinho pra uma viagem legal. O foco era juntar uma grana, mas essa experiência me deu tanta coisa que o dinheiro foi o de menos.
Foi o período das amizades mais intensas da vida e que me desculpem alguns amigos queridos, mas foram as mais abertas e sinceras. Morei por um ano em uma montanha russa de sentimentos, tive no mesmo dia todos eles em níveis elevados e isso quase que diariamente. Chorei de soluçar de medo, de angustia, de saudade. Tive tempo pra compreender muitas coisas da vida e da minha vida, tomei na cabeça tijoladas de realidade, aprendi a simplicidade do amor, entendi que não preciso ter mil sapatos, parcelas em loja, que não adiantar estressar demais e que a fé meu querido, a fé em você e em Deus é tudo nessa vida.
Entendi que “tá tudo bem”.
Depois disso ainda tive a oportunidade de conhecer destinos como Tailândia, Camboja, Vietnã e Índia. De cabeça, peito e coração abertos fui viver pedaços desses destinos. Talvez muitas pessoas não saibam, talvez você não saiba, mas eu fui pra alimentar minha alma, fui buscar o novo mais uma vez, eu não queria me acomodar.
E sem procurar me encontrei pelos cantos de cada lugar que passei, me atirei em culturas tão diferentes que seria estranho se alguma coisa não mudasse em mim.
E sem perceber, desde que escolhi sair do ninho eu fui me reconstruindo, mudando as referências, os valores e significados. Mudei a noção de tempo, o gosto pelas coisas, o valor do amor, o peso da cobrança e entendi que escolhas são escolhas e tá tranquilo.
E eu aprendi que em todas as vezes que eu me sentia pequena diante de qualquer situação eu estava prestes a crescer.
Eu mudei, mudei até no jeito de te olhar.
Essas conquistas e aprendizados ninguém vai tirar de mim. A questão é que eu voltei pro mesmo lugar, mas eu já não sou a mesma, ainda bem.
14 comments
Amei!!!!!!
Exatamente assim a gente se sente qdo vai pra outro país… Muito pequena no principio, muito pequena varias outras vezes… Mas, na verdade, a gente cresce de uma forma que só se dá conta no momento certo, no momento que a vida/universo/Deus quer que a gente enxergue o tamanho da gente. Sinto o mesmo! “Tamo junto”. Tá tudo bem!
Adorei o desabafo/texto.
😘
Me representa! 🙂
Showwwww. Parabéns.
😍😍😍😍😍😍😍
Nina adorei o texto e me identifiquei em muitos pontos, tenho essa sensação que de repente o meu mundo se tornou pequeno, de que falta algo, de que o mundo é muito maior, de que eu posso aprender muito e estou me limitando a um espaço, quando o mundão é muito maior… Começo meu percurso de me procurar pelos caminhos dia 30, espero um dia voltar aqui e poder falar que me encontrei…
Muito bom Nina … adorei …
Ainda bem que coisas esquisitas acontecem em nossas vidas para que coisas BOAS venham … kkkkkk
🙂
Beijos …
Maravilhoso seu relato Aline. Vc falou fundo na minha alma, é exatamente assim que me sinto e estou aprendendo a lidar melhor com esse turbilhão de emoções. Obrigada por ter escrito isso. Vou compartilhar 💕
Top nina.. somos mt pequenos nesse mundao..
Cada dia uma experiencia nova..
Sensacional e emocionante o texto. 😊
Belíssimo!
Quando nos sentimos pequenos, é que estamos prestes a crescer de novo 🙂
Outro dia ouvi: “if you are the smartest in the room, you are in the wrong room” e poderia adaptar para “se você está muito grande em um espaço, está na hora de mudar de espaço” – tipo o caso da lagosta, que troca de casca quando fica apertada 🙂
Nina!!!!
Que texto!!! Uau fiquei sem palavras, pois em vários momentos da vida me senti pequena e foi nestes momentos que eu mais cresci.
Depois que vi seu vídeo no facebook falando sobre fazer intercâmbo depois do 30 eu fiquei super motivada, a sua visão sobre tudo isso me deixa ainda mais certa que preciso viver isso também.
Tenho 31 anos e fechei meu intercâmbio de 4 semanas para 2018, podem parecer poucos dias, mas acredito que será uma experiência incrível.
Existem algumas coisas que precisamos ver e viver por nós mesmas, não é verdade?!
Obrigada Nina <3
Bjos!
Oiiie,
Digamos que estou sentindo que preciso disso tudo, esse texto e o outro de quando vc fez o intercâmbio aos 29 anos!!! Ansiosa para viver e redescobrir e lindo texto!!
Isto post é vale a atenção de todos. Onde pode descobrir mais?